1 Intoxicação com Substância
1.1 Características diagnósticas
A característica essencial de Intoxicação com Substância consiste no desenvolvimento de uma síndrome reversível e específica de uma substância devido à sua ingestão recente (ou exposição a esta). As alterações comportamentais ou psicológicas mal adaptativas e clinicamente significativas associadas à intoxicação, por exemplo: beligerância, humor instável, prejuízo cognitivo, juízo comprometido, funcionamento social ou ocupacional prejudicado, devem-se aos efeitos fisiológicos diretos da substância sobre o sistema nervoso central e se desenvolvem durante um longo ou logo após o uso da substância. Os sintomas não se devem a uma condição médica geral nem são mais bem explicados por outro transtorno mental. A Intoxicação com Substância freqüentemente está associada com Abuso de Substância ou Dependência de Substância. Esta categoria não se aplica à nicotina. Evidências do consumo recente da substância podem ser obtidas a partir da anamnese, do exame físico, por exemplo: hálito etílico, ou da análise toxicológica de líquidos corporais como urina ou sangue.
As alterações mais comuns envolvem perturbações da percepção, vigília, atenção, pensamento, julgamento, comportamento psicomotor e comportamento interpessoal. O quadro clínico específico na Intoxicação com Substância varia drasticamente entre os indivíduos, dependendo também da substância envolvida, da dose, da duração ou cronicidade do uso, da tolerância do indivíduo à substância, do período de tempo decorrido desde a última dose, das expectativas do indivíduo quanto aos efeitos da substância e do contexto ou ambiente no qual ela é consumida. As intoxicações breves ou “agudas” podem ter sinais e sintomas diferentes daqueles apresentados nas intoxicações prolongadas ou “crônicas”. Por exemplo, doses moderadas de cocaína podem, inicialmente, produzir sociabilidade, mas um retraimento social pode desenvolver-se, caso essas doses sejam freqüentemente repetidas por dias ou semanas.
Diferentes substâncias (às vezes até mesmo diferentes classes de substâncias) podem produzir sintomas idênticos. A Intoxicação com Cocaína e a Intoxicação com Anfetamina, por exemplo, podem apresentar um quadro de grandiosidade e hiperatividade, acompanhado por taquicardia, midríase, hipertensão arterial, sudorese ou calafrios. O álcool e as substâncias da classe dos sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos também produzem sintomas semelhantes de intoxicação.
Quando usado no sentido fisiológico, o termo intoxicação é mais amplo do que Intoxicação com Substância, tal como é definido aqui. Muitas substâncias podem produzir alterações fisiológicas ou psicológicas que não são, necessariamente, mal adaptativas. Por exemplo, um indivíduo com taquicardia por uso excessivo de cafeína tem uma intoxicação fisiológica, mas sendo este o único sintoma na ausência de comportamento mal adaptativo, o diagnóstico de Intoxicação com Cafeína não se aplica. A natureza mal adaptativa da alteração da alteração comportamental induzida pela substância depende do contexto social e ambiental. O comportamento mal adaptativo em geral coloca o indivíduo em risco significativo de efeitos adversos, por exemplo: acidentes, complicações clínicas em geral, perturbação dos relacionamentos sociais e familiares, dificuldades ocupacionais ou financeiras, problemas legais. Os sinais e sintomas de intoxicação podem às vezes persistir por horas ou dias além do período em que a substância é detectável nos líquidos corporais. Isto pode ser devido à permanência de baixas concentrações da substância em certas áreas do cérebro ou a um efeito de “bater e correr”, no qual uma substância altera um processo fisiológico cuja recuperação toma mais tempo do que o necessário para a eliminação da substância. Esses efeitos mais prolongados da intoxicação devem ser diferenciados da abstinência (sintomas iniciados por um declínio nas concentrações de uma substância no sangue e nos tecidos).
2 Abstinência de Substância
2.1 Características diagnósticas
A característica essencial da Abstinência de Substância consiste no desenvolvimento de uma alteração comportamental mal adaptativa e específica de determinada substância, com concomitantes fisiológicos e cognitivos, devido à cessação ou redução do uso pesado e prolongado da substância. A síndrome específica da substância causa sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes. Os sintomas não se devem a uma condição médica geral nem são mais bem explicados por outro transtorno mental. A abstinência geralmente, mas nem sempre, está associada com Dependência de Substância. A maior parte dos indivíduos com Abstinência (talvez todos) sente uma premência por readministrar a substância para reduzir os sintomas. O diagnóstico de Abstinência é reconhecido para os seguintes grupos de substâncias: álcool, anfetaminas e substâncias correlatas; cocaína; nicotina; opióides; e sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos. Os sinais e sintomas de Abstinência variam de acordo com a substância sendo a maior parte dos sintomas o oposto daqueles observados na Intoxicação com a mesma substância. A dose e a duração do uso e outros fatores tais como presença ou ausência de doenças adicionais também afetam os sintomas de abstinência. A Abstinência desenvolve-se quando as doses são reduzidas ou cessadas, ao passo que os sinais e sintomas de Intoxicação melhoram (gradualmente, em alguns casos) após a cessação das doses.
(Fonte: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 4ª Edição)
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